recenseamento de sentidos
Texto da curadora, Sylvia Furegatti, 2023
A exposição da artista Keila Knobel apresenta um conjunto de sua produção mais recente conduzida pelos aspectos simbólico, material e imagético do culto às plantas não convencionais que persistem nos jardins cultivados, espaços gramados, frestas das calçadas ou quintais. Assim é que ela detém sua atenção entre a admiração e o estudo de suas formas, tipologias e cores, tanto quanto nos alerta sobre a imanente poesia dessas formas de vida.
Seu trabalho constitui-se de reflexões sobre as interconexões dos seres viventes e o meio ambiente. É essencialmente experimental. Contudo, podemos encontrar alguma regularidade que vale a pena destacar: se o objeto escolhido é a planta, o método criativo é a impressão sensibilizada pela luz. Assim, ela vem produzindo impressões botânicas, cianotipias, antotipias, fotografia e gravura. É verdade que o desenho está há mais tempo presente, assim como a ele se soma a colagem e, desses todos, a deriva por outras linguagens artísticas que, não raro, alinha-se à palavra. No conjunto de peças apresentado encontramos também seu interesse pelas raízes tornadas visíveis pela luz do pote de vidro com água, apropriado por meio da fotografia. Raízes assim compreendidas como linhas tanto quanto estruturas capturadas pela luz.
Podemos compreender a forte presença dos livros e cadernos de artista em sua produção tal como plantas férteis que oferecem à artista generosa gama de experimentações, exercícios plásticos, formais e conceituais sobre a relação das importâncias dos muitos objetos que nos cercam; sobre as situações que elegemos e reconhecemos para formar nosso entorno. Os livros e cadernos, assim como certas coleções de objetos, suscitam os encontros entre imagem e texto; aqueles que levam seus artistas praticantes à organização poética de espaços/páginas/módulos sequenciados, tais como esses que podemos conhecer aqui.