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impermanências desprezadas e cultivadas

Esta foi minha primeira exposição individual. Uma exposição que aconteceu por ter sido selecionada pela Casa de Eva, que em 2022 lançou uma convocatória como parte do projeto "Manutenção e conexões”, contemplado pelo Edital PROAC Expresso Direto 40/2021. A Casa de Eva queria selecionar uma proposta que explorasse a relação entre o jardim da Casa e seu espaço expositivo, assim todas as obras apresentadas foram feitas no período de aproximadamente cem dias. 

Comecei pela pesquisa de espécies ornamentais e espontâneas presentes no jardim da Casa e propus uma contraposição às espécies encontradas em descartes de podas municipais feitas em canteiros e áreas verdes de Campinas.

Tomei emprestada a essência sempre mutável e efêmera das folhas e flores para questionar a valoração atribuída às plantas cultivadas e comercializadas em relação às que nascem espontaneamente em ambientes urbanos, como ruas, calçadas, muros e jardins. Foi, e sempre será também, um convite à presença e à observação de existências vegetais mínimas e cotidianas e à reflexão sobre relações multiespécie baseadas (ou não) no utilitarismo e no consumismo.

As técnicas usadas foram fotografia digital, antotipia, impressões botânicas sobre papel e sobre tecido, em alguns casos, acrescidos de aquarela, lápis de cor e bordado. Na montagem da exposição decidimos por incorporar a própria materialidade processual, com exposição de cadernos, plantas secas e de materiais usados na impressão botânica.

Enquanto a fotografia expõe fragmentos têmporo-espaciais sob o ponto e o ângulo de vista de quem fotografa, a impressão botânica revela o espaço concentrado no interior das plantas e está muito mais sujeita ao acaso. Se, como disse Bachelard, “a imaginação quer ver o invisível, apalpar o grão das substâncias”, a impressão botânica é a técnica que mais pode oferecer imagens para o pouso desse imaginar, e feita com as plantas da Casa e das podas dos canteiros e áreas verdes da cidade. A antotipia, fotograma sobre papel emulsionado em solução vegetal e em contínuo esvaecer, pode ser feita, emulsão e imagem, com as mesmas matérias vegetais.

Texto da curadora, Sylvia Furegatti, 2022

Uma exposição que reforça a presença do binômio arte e natureza, aqui sob o olhar questionador de Keila Knobel acerca das diferenças (de valor?) atribuídas às plantas espontâneas e às eleitas para comporem um jardim. Trata-se de uma produção que parece nos indagar sobre o tempo de duração da imagem, sobre as derivas que antecedem sua produção quando se busca por determinadas formas, cores e espécies, bem como revelam-se em imagens condutoras da sorte dos encontros e cultivos que acabam por definir a metodologia do projeto.

Os elementos selecionados para esta mostra revelam a amplitude poética alcançada pela artista. Na configuração proposta para a Casa de Eva, impressões de antotipos, impressões botânicas sobre papéis e tecido, fotografias, coletas de ramos e flores, além de outros elementos de processo do ateliê são dispostos em conjuntos em uma ordem mais sensível que racional, multiplicados de modos variados em uma organização plástica e conceitual tomada por referenciais de pesquisa em curso: intervenções, desenhos, anotações na forma de textos, registros fotográficos de processo, indicações de leitura em fontes científicas.

A evanescência das flores, conduzidas por operação artística, induzem ao olhar delongado e ao interesse pela sutileza dos detalhes das formas e desenhos produzidos por e a partir de silhuetas e cores de plantas promove um tipo de visualidade composto por imagens sabedoras de sua própria contingência; imagens convidativas para o (re)conhecimento de seu curso, em processo. Estão à vista, mas sempre por um fio.

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